Lavar louça é algo tão comum e
parece ser uma coisa tão inofensiva que nem dá para medir os impactos
ambientais que esse hábito pode causar.
Normalmente a maioria das pessoas
usa detergente para lavar a louça, mas será que essa é a opção mais
sustentável? O blog Químico Estudante, novo parceiro do blog Química Sustentável, publicou um texto muito interessante que fala a respeito dos
impactos que o detergente e o sabão em barra podem causar ao meio ambiente e
mostra de forma bem clara qual a melhor opção para lavar a louça de forma
sustentável.
Vejamos a estrutura de cada um,
para chegarmos a uma resposta satisfatória.
Os sabões possuem a seguinte
estrutura típica:
Observe que ele possui uma parte
apolar, representada pela cor azul, que interage com a gordura e com o óleo,
que também são apolares; e apresenta uma parte polar, em amarelo, que interage
com a água, que por sua vez também é polar. É só lembrar do conceito: “Semelhante dissolve
semelhante”.
A estrutura dos detergentes
também possui uma parte polar e uma apolar, conforme pode ser visto a seguir:
O ponto ao qual queremos chamar a
atenção, e que pode ser observado pela comparação entre as duas estruturas, é
que os detergentes mais comuns são sais derivados do ácido sulfúrico (H2SO4),
que é um ácido forte e traz mais danos ao meio ambiente. Por isso, há a
presença do enxofre (S) na estrutura do detergente. A matéria-prima básica dos
detergentes é o petróleo, que é um recurso energético fóssil não renovável.
Além disso, o caso mostrado acima
é de um detergente biodegradável, porém existem alguns detergentes, que são
aqueles que apresentam ramificações na sua estrutura, que não são
biodegradáveis, ou seja, não são degradados pelos microrganismos e se forem
despejados em rios e lagos podem causar graves efeitos ambientais com
consequente morte de diversos peixes, algas, insetos e aves aquáticas.
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Detergente não biodegradável |
Já os sabões são feitos de óleos
ou gorduras que reagem com uma base forte, como o hidróxido de sódio (NaOH).
Assim, os sabões são sais de ácidos carboxílicos, que são ácidos fracos. Na
estrutura desses sabões, o hidrogênio do grupo carboxílico (─COOH) é
substituído por íons sódio (Na+), potássio (K+) ou amônio (NH4+), como mostrado
a seguir. O resultado é que todos os sabões são biodegradáveis.
Os sabões são sais de ácidos
carboxílicos em que o hidrogênio do ácido é substituído por um cátion. Outro ponto negativo em relação
aos detergentes é que muitos deles contêm íons fosfato em sua estrutura. Esses
íons são utilizados pelas algas como nutrientes, assim, com esses detergentes
sendo despejados nos rios, seus íons fosfato vêm aumentando drasticamente e
essas algas se multiplicam em larga escala. Esse processo é denominado
eutrofização e provoca a morte de peixes e outros seres vivos aquáticos, pois
as algas vão cobrir as superfícies dos lagos, impedindo a entrada de luz e
oxigênio na água. Dessa forma, se olharmos a questão ambiental, o sabão em barra é a melhor opção.
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Foto: http://ramonlamar.blogspot.com.br |
Mas e quanto à eficiência?
Bom, os sabões apresentam uma
desvantagem quando a limpeza é feita com água que contenha cátions de cálcio,
magnésio e ferro, pois os ânions dos sabões podem reagir com esses cátions,
originando compostos insolúveis, que se precipitam e formam a chamada água
dura. Dessa forma, os sabões não conseguem remover a sujeira e a gordura. Já os detergentes têm a vantagem
sobre os sabões de que eles nunca reagem com os cátions da água dura e,
portanto, realizam a limpeza independentemente da água usada.
Mas o que faz com que os
detergentes tenham a capacidade de remover a gordura de objetos sujos enquanto
que a água sozinha não tem essa capacidade?
Bom, a água é uma substância
polar e as gorduras são apolares. Assim, a água não consegue interagir com as
gorduras, pois não tem afinidade com elas. Além disso, a água possui uma tensão
superficial que a impede de penetrar em certos tipos de tecidos e outros
materiais. Porém, aí surge outra pergunta: o que é essa tensão superficial?
As moléculas de água se atraem
mutuamente e, como existem moléculas para todos os lados, essa atração,
denominada força de coesão, ocorre em todas as direções; exceto no que tange às
moléculas da superfície. Visto que essas moléculas não têm outras moléculas de
água acima delas, as suas forças de coesão para os lados e para baixo se
intensificam, criando, assim, uma espécie de película na superfície da água,
que é a tensão superficial.
Essa tensão superficial é a
responsável por mosquitos conseguirem se deslocar por cima da água. É
responsável também por materiais leves, como agulhas e moedas, flutuarem na
água e, além disso, a tensão superficial constitui um dos fatores que
dificultam a limpeza somente com o uso da água.
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Tensão superficial da água. Foto: http://gizmodo.uol.com.br |
E como os detergentes e os sabões
resolvem essa questão da tensão superficial e da polaridade?
Conforme dito, eles possuem duas
partes distintas em sua estrutura, sendo que a parte polar é também hidrofílica,
ou seja, possui afinidade com a molécula de água, porém não interage com as
moléculas da gordura. Já na parte apolar ocorre exatamente o contrário, pois é
uma parte hidrofóbica – não interage com a água, mas tem afinidade com as
moléculas de gordura.
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Micela formada por moléculas de detergentes dispersas em água. Foto: http://www.alunosonline.com.br |
Assim, o que acontece é que
quando adicionadas na água, as moléculas dos detergentes se distribuem ao redor
das moléculas de gordura, formando pequenos glóbulos, denominados micelas.
A
parte apolar das moléculas do detergente fica voltada para o interior do
glóbulo, em contato com a gordura; enquanto que a parte hidrofílica ou polar
fica voltada para o exterior, em contato com a água.
Dessa forma, quando se
“arrastam” as micelas de detergente, removem-se também a gordura junto, pois
ela estará aprisionada na parte hidrofóbica, isto é, na região central da
micela.
No que diz respeito à tensão
superficial da água, os detergentes têm a capacidade de diminuir essa tensão,
facilitando, assim, com que a água penetre em vários materiais para remover a
sujeira. É por isso que o sabões e os detergentes são chamados de agentes
tensoativos ou surfactantes, sendo que essa última palavra vem do inglês
surface active agents = surfactants.
Esse é um dos fatores que ameaçam
o meio ambiente, pois quando os detergentes são despejados em rios e lagos, o
deslocamento dos insetos sobre a água é dificultado, o que pode diminuir a
população de insetos e causar um desequilíbrio no ecossistema.
Por Jennifer Rocha Vargas Fogaça.