Como os repelentes naturais funcionam

quinta-feira, dezembro 17, 2015

Com o boom do zika vírus, doença causada pelo mosquito da dengue, muitas especulações a respeito dos repelentes naturais têm sido criadas. Com isso, realizamos algumas pesquisas acadêmicas, para mostrar aos nossos leitores a química por trás dos repelentes naturais e como eles funcionam.

Na natureza, todos os organismos investem sua energia em uma incessante luta pela sobrevivência tentando encontrar o alimento, procriar e evitar ser predado.

A produção de algumas substâncias pelas plantas diminui o ataque por herbívoros predadores. O conjunto de substâncias químicas apresenta uma versatilidade que auxilia não somente no combate aos predadores, uma vez que o aroma dessas substâncias atrapalha a atração entre os mosquitos e as substâncias liberadas pelo ser humano através da pele, como também evita infecções por vírus, bactérias ou fungos, ou mesmo a competição com outras plantas.

Os óleos derivados de produtos naturais que possuem os maiores potenciais como repelentes de insetos são os de citronela, cravo, verbena, cedro, lavanda, pinho, canela, alecrim, manjericão, pimenta e pimenta da jamaica.

As receitas que mais circulam na internet com o objetivo de combater o mosquito transmissor da dengue, são compostas pela citronela e o cravo-da-índia.

CITRONELA




Esse vegetal apresenta em suas folhas o óleo essencial citronelal que possui aroma característico. O óleo extraído de suas folhas, frescas ou parcialmente dessecadas, é usado como repelente de mosquitos. Essa propriedade é atribuída à presença de substâncias voláteis, que "voam", em suas folhas, como citronelal, eugenol, geramiol e limoneno, entre outras, denominadas de um modo geral como monoterpenos.

CRAVO-DA-ÍNDIA




Da semente do cravo-da-índia se extrai o ácido eugênico, ou eugenol, a partir do qual se consegue obter um aroma ativo que protege contra a picada do mosquito.

Mas o que difere os repelentes naturais dos industrializados? O tempo de duração.


Foto: Reprodução
Os repelentes industrializados, segundo sua fórmula, possuem uma duração de afastar o mosquito maior que a dos repelentes naturais. Isso porque em sua fórmula há a presença de óleos que garantem a fixação das substâncias repulsoras.

No entanto, ainda é possível obter essa duração, ou aproximá-la, com os repelentes naturais. Por isso que a maioria das receitas utilizam óleos essenciais como os de amêndoa, coco, girassol, soja, entre outros. Eles ajudam a fixar a essência na pele e promove uma barreira física contra o mosquito.

Somente o uso de álcool, como a receita do cravo-da-índia, não garante uma duração de repulsão do mosquito transmissor da dengue. O álcool é utilizado para extrair melhor as substâncias químicas do cravo, e assim, ativa as propriedades repelentes da especiaria, porém, por ser muito volátil, ou seja, se desprender e “voar” rapidamente, o álcool diminui o tempo de duração do desse repelente natural.


Fontes:

AFFONSO, Raphael S. et al. Aspectos Químicos e Biológicos do Óleo Essencial de Cravo da Índia. Revista Virtual de Química, v. 4, n. 2, p. 146-161, 2012.

BARTH, Ortrud Monika et al. Atlas of dengue viruses morphology and morphogenesis. In: Atlas of dengue viruses morphology and morphogenesis. Instituto Oswaldo Cruz, 2000.

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GILMAR, Fernanda Flores VogelIII Péricles MassariolIV; AGNOLINV, MeinerzV Carlos; VIAUVII, Ademir Farias MorelVI Luiz Volnei. Óleo de citronela no controle do carrapato de bovinos. Ciência Rural, v. 38, n. 2, 2008.

DA SILVA EMERY, Flávio; DOS SANTOS BIANCHI, Gabriela; DE CÁSSIA BIANCHI, Rita. QUÍMICA NO COTIDIANO - A QUÍMICA NA NATUREZA. Sociedade Brasileira de Química, v. 7, p. 39-41, 2010.

SÁNCHEZ, Eroni Paula Paim et al. 136-Produção de mudas e repelentes naturais a base de citronela no combate e prevenção à dengue. Cadernos de Agroecologia, v. 7, n. 2, 2012.

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